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Músicas de Lucas Silveira

Se emocione com os textos que o Lucas Silveira escreve.

01/12/1983
Das canções que eu esqueci que havia feito Lucas Silveira

Entortei os ponteiros com a mão
Só pra estremecer o tempo
Por um segundo eu tive essa sensação
Até ela me escapar com o vento

Pra não mais voltar
Ela não vai voltar

Falhei quando tentei dançar a dois
A dança estranha dos meus dias
Senti o fogo arder para depois
Deixar minhas mãos ainda mais frias

Pra não mais voltar
Quem nunca esteve aqui

Mas, se eu pudesse voltar no tempo
Jamais mudaria um só momento
Então vai, é tudo que eu posso pedir
Não olhe pra trás, sob pena de não mais me encontrar aqui.


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Eu sou a maré viva Lucas Silveira

A casa cheia, o coração vazio
Escorre do meu rosto, um lamento arredio

O veneno acabou, a festa esvaziou
O tempo da inocência terminou

Os amigos que eu fiz, e quem jamais voltou
Ferida que eu abri, e a que jamais fechou
Deixou passar a luz, que vence a escuridão
Pra tentar aquecer esse coração

Eles vão me derrubar, que é pra me ver crescer
Eles vão me matar, que é pra eu renascer
Como uma supernova que atravessa o ar
Eu sou a maré viva… se entrar, vai se afogar
Eu grito pro Universo, o meu nome e o teu
E ele vai escutar.

Eu mandei um sinal rumo ao firmamento
Eu forneci a prova cabal desse meu desalento
A sonda vai voar
Até não dar mais pra ver
Levar o que há de bom em mim
Vai levar pra você…

E os que não estão mais aqui
Todos os que se foram
Eles vão me encontrar
Em outra dimensão
Onde não existe dor
Não se declara guerra
Quando estamos em paz.


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Astronave cantada Lucas Silveira

Aos 13 ou 14 anos de idade, escrevi uma música que – para variar – falava sobre uma guria da minha sala que não me levava muito a sério. A idade era pouca, mas já era eu sendo eu mesmo, o lunático-mirim que sonhava ser astronauta e pedia ajuda ao professor carioca de geografia para calcular em quanto tempo eu poderia levar minha nave até o Sol. Foi quando o professor Fábio, esse carioca muito engraçado, revelou, para a minha ingrata surpresa, que não há nada lá.

É apenas uma bola de fogo, queimando até o combustível terminar. Não há nada lá. Também não há nada em Júpiter, nem Saturno, nem nos planetas seguintes. A gente não pode pegar uma nave e pousar lá. São astros gasosos, tão densos quanto o ar. Não há chão, não há atmosfera, não há pista de pouso. Não há nada lá que justifique a viagem (sem volta).

Isso encrustrou na minha cabeça, de uma maneira que me fez relacionar essa triste novidade com tudo que a vida colocava no meu caminho. A tal canção escrita para a guria que não me levava a sério custou, mas deu resultado. Isso me fez feliz por tempo suficiente para descobrir que tratava-se de uma missão sem propósito, um planeta gasoso sobre o qual eu não poderia pousar. Um corpo celeste cuja beleza pode ser observada à distância, em fotos de poderosos satélites que revelam belas e harmoniosas composições de formas e cores, mas que, ao passo em que aproximo minha astronave, essa beleza evanesce em uma fina névoa etérea, sem cheiro, sem cor, sem sabor, sem nada.

A música tem me levado veloz pela galáxia, numa velocidade em que torna-se perigoso o pouso, podendo esse resultar em feridas profundas e ferragens retorcidas projetando-se em velocidades inimagináveis me atravessando o corpo. O medo do acidente inevitável me fez encontrar conforto no sobrevôo sub-orbital, na contemplação distante e no contato mínimo com a infinita quantidade de luas, estrelas, buracos negros, intangíveis oceanos de anti-matéria e planetas que riscam o misterioso horizonte que passa pelas minhas janelas.

No entanto, dia desses orbitei insistentemente um pequeno ponto perdido no cosmo infinito, por vezes até confundindo suas marés, fazendo-as esvaírem vazantes de choro. O voo progressivamente transformou-se em impensável rasante, de maneira que as leis da física, implacáveis e soberanas em qualquer parte desse Universo, apressaram a inevitável colisão. É quando o plano de vôo mostra-se desprovido de significado, o manobrar do manche não traz resultado e o grito de socorro no rádio não encontra destinatário. Emergência.

É quando chegamos ao eterno agora: eu, astronave desconhecida, sem combustível, destino, nem coordenadas para voltar, pedindo permissão para pouso.


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Tenho escrito menos Lucas Silveira

E vivido um pouco mais. A literatura de meus dias perdeu o caráter de microconto, por isso não mais os tantos posts. Virou romance que não mais se capitula em poucos parágrafos. Muitas vezes abandonei em branco o texto, pois olhava, míope, para dentro de mim e nada via senão o nebuloso vulto da ulceração que ainda gritava em vermelho. Precisava encontrar um caminho para a superfície, mas no fundo daquele poço encontrei um par de lentes.

O romance nos desafia a convicção, por vezes tira a paciência, e pode até nos subtrair alguns anos da vida, mas quando é que alguém, por um segundo que fosse, cogitou – a sério – viver sem ele? Nossas aspirações vão, cada vez mais, aproximando-se da realidade; a gente passa a prometer menos, mentir menos, e chega até a achar que, dessa vez, erraremos menos, por julgarmos saber onde escondem-se todas as bombas desse campo minado. Nem preciso lembrar que a única certeza no romance é a de se estar eternamente em apuros, saracoteando as pernas para não se deixar afundar totalmente no obscuro e indecifrável oceano que é a vida daquela pessoa com a qual estamos de mãos dadas.

Em apuros pois é perigoso. É perigoso porque a gente arrisca. E a gente arrisca porque quer. Ninguém nos obriga a viver o amor, mas a gente ama vivê-lo. Ninguém nos obriga a sentir as mesmas dores de novo, mas a gente se quebra em mil pedaços para sentir o prazer na cura. A gente acha que pode viver sem, mas as palavras soluçadas no fim de uma noite ébria evidenciam o que, para todos ao nosso redor, já era óbvio: estamos fodidos.

Em apuros não estou só eu, estamos todos nós, meus caros. Romance é o que se persegue pelas esquinas, que foge à luz dos postes, e ele está bem. Em perigo estamos nós, nesse apuro que reside na nossa urgência em vivê-lo. Vivê-lo, mesmo que torto, inacabado, ferido, precipitado, errado, proibido, ou impossível. Vivê-lo de verdade, com intensidade e sem escudos. Como deve ser, e como inevitavelmente é, quando nosso coração nos dá aquela única e inevitável rasteira que nos faz quicar no chão.

Viver o romance é estar em apuros.

Estou vivendo, e não quero ser salvo.


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... ou não Lucas Silveira

Talvez não caiba a mim encontrar o paradeiro do romance perdido. É que ele não me escapou pelos dedos desatentos, não está ao relento entre o meio-fio e os carros, não se esvaiu junto às memórias de uma madrugada ébria. Me corrói as entranhas cogitar a hipótese de que talvez jamais tenha, de fato, existido aquilo que tenho procurado. Me perfura os pulmões a constatação daquelas coisas que, mesmo quando assumidamente prováveis e esperadas, eu – ingenuamente – negava até o fim que pudessem acontecer:

As piores verdades são aquelas que parecem mentira.

Mas então o que é a verdade, se não tudo aquilo em que acreditamos com todas as nossas forças, até o fatídico momento em que não cremos mais? As verdades mudam, e as tuas o fazem numa velocidade que acredito que ninguém seja capaz de acompanhar. Justamente, por medo disso, tratei de despir meus sentimentos de poesia. No entanto, as nossas situações, mesmo nuas de significado, mesmo ceticamente analisadas com a frieza de um cirurgião, teimavam em rabiscar sorrisos na minha cara. Sorrisos que não saíam em água corrente. Mesmo assim, tenho vivido ao pé da letra o ‘dia-após-o-outro’, jamais adornando os dias com os meus costumeiros exageros que conheço bem. É difícil manter os pés no chão enquanto a mente voa.

Talvez o que me compete seja justamente diagnosticar a completa inexistência do romance, ou constatar que trata-se de um bobo conceito hipotético. Uma ideia que nos inspira, que nos motiva, que nos estufa o peito através de um brusco sopro do mais puro nada. Uma isca que nós, mesmo após fisgados sucessivas vezes, seguimos mordendo, constantemente e com convicção. E eu mordi mil vezes e vou morder outras duas mil, justamente por acreditar na ínfima chance de – somente por uma vez – aquilo tudo não ser uma mentira.

As piores mentiras são aquelas que parecem verdade.


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Das coisas que fogem ao controle Lucas Silveira

Me foi pedido o número do telefone. Quem me ligaria seria a dona de uma voz já conhecida, mas que há muito não ouvia. O telefone tocou e, antes que vibrasse pela segunda vez, saquei-o. Lá estava eu, do alto dos meus vintesseis, perdendo totalmente o controle, de novo.

Será que existe algo mais emocional do que optar por ser racional, por medo de errar novamente? E o que é mais racional do que permitir que essa emoção guie cada um dos nossos passos? Às vezes são tão altas as vozes de fora, que a gente acaba não ouvindo o peito gritando. O meu peito é que gritou alto demais, calando as vozes de fora. Epifania. Compreensão súbita. Era como se estivesse tua imagem estampada em tudo que vejo. E aquela presença permanente no meu pensamento me fez percorrer a extenuante e perigosa trilha que me leva de encontro a ti.

Será que existe burrice maior do que saber todas as respostas? E sabedoria maior que a sabedoria de se deixar enganar? A gente pensa que, com o passar do tempo, aprendemos a pular as rasteiras que nos são passadas. Digo, por experiência própria, que existem tombos que eu adoraria tomar de novo. Me via novamente ansioso. Tão ansioso que passei a olhar pros lados, sempre achando ser a tua voz qualquer ruído que me atingisse os tímpanos. As vezes em que acertei são minoria, mas eu aprendi demais, justamente por errar demais.

Os minutos que a gente tem juntos viram dias e semanas em câmera lenta, dentro da minha cabeça, toda vez que o elevador desce contigo dentro. Meu coração está vazio, sem mobília. Mas tudo que eu preciso agora é de espaço pra te construir dentro do meu peito, com as poucas peças que tenho em mãos.

Com quem estou ao telefone? Com a saudade, que há muito não vejo. Ela está chegando, e não parece ter planos de ir embora tão cedo. Eu aguento. Basta que feche os meus olhos e dê play numas poucas horas de filme, e uma mísera foto sem resolução no meu celular. Cá estou eu, do alto do meu sexto andar, perdendo o controle, de novo.

Tudo acontecia devagar. Tudo que ela fazia parecia, aos meus olhos, acontecer em câmera lenta. Como se fizéssemos amor debaixo d’água.

Nada mudou: continua tudo mudando a todo minuto.


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O ornitorrinco que passeia por mim Lucas Silveira

A pedido da minha alma. De um bichinho de unhas grandes que vaga por minhas entranhas de uma forma que, por mais que eu tente, não consigo manter-me indiferente. Ele quer voltar a sair. Sente saudade dos pares de olhos que encontrou durante anos, dentro de quartos tão ou mais escuros do que esse que me acolhe. Quer ir pra rua, de novo, o ornitorrinco.

A pedido das palavras que, presas entre os dentes e a língua, são privadas da reverberação pelo ar. Atendendo ao clamor dos pensamentos que, cansados de ricochetear no pequeno vestíbulo ao qual mantenho-os confinados, ora por medo, ora por preguiça, ou então sem motivo aparente, aqui escrevo.

Obedecendo a ordem que meu coração me deu de voltar a escrever sem métrica, tempo ou medida, sem melodia, sem ritmo nem rima, aqui e agora, eu volto a borrifar ao vento os sentimentos que não consigo cantar.

Atendendo a pedidos, cá estou. Volte sempre.


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O visconde vive Lucas Silveira

Eu peço paz
Pra não ver rasgarem os pontos que a guerra traz
Eu já vi demais
E os olhos cegam quando eu tento olhar pra trás

Me esvaziaram de tudo que eu podia acreditar
E me jogaram, submerso num rio de lodo, que não ia para o mar
“Isso é pra você aprender!”
“Você precisa lutar!”
… só não me disseram contra o quê…

Pra me acordar do coma
Me despertar pro Agora
E todo dia, eu nasço, cresço, adoeço, e morro um pouco mais
Dessa vida, a Doença dos Dias.

Teve um táxi que eu peguei, nem sequer cumprimentei
Pois estava tão perdido, não sabia pra onde ir
O homem abaixou o som, disparou sem hesitar:
Perguntou: ‘que cara é essa?’ e começou a me contar

Sobre a guerra em que lutou, sobre os tiros que tomou
Os amigos que perdera e sobre os seus caixões chorou
E tornou a perguntar o que eu estava a lamentar
Mas cheguei ao meu destino e saí sem lhe falar

Que eu não sei lidar!
Que eu queria ter problemas como os seus
O corte é na alma, e eu não consigo fechar
Mas posso aplaudir esse dia que nasceu

E eu sei que logo esse inverno acabará
E com as chuvas, vai-se embora esse pesar
Vai me tirar do peito o que há muito estava lá
Mas ficam as canções…
… são tantos corações pra confortar.


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O último Lucas Silveira

Missão não-cumprida.

E foi falhando na tentativa de salvar o romance de seu eterno apuro que me descobri inapto a viver com a cabeça leve. Quanto mais fundo cavamos em busca de significados perdidos, mais difícil e utópica se torna a nossa volta para a superfície. O podre se apega a nós, nos persegue, nos tira a razão e a infinita corrida em direção à luz nos faz perceber em profundidade que estamos TODOS – sem exceção – perdidos como náufragos ao mar. E a luz, sempre à frente, inalcançável, guiando-nos pelo seu trajeto torto e cheio de armadilhas.

Felizes os ingênuos, os burros, e os filhos-da-puta.

Percebo o peso da idade quando sinto em minha mente a presença de cada vez mais pensamentos aos quais eu não posso – ou não consigo – dar vazão. Sempre tive facilidade na hora de traduzí-los em parágrafos, mas esse artesanato leva tempo, é cansativo e, certas vezes, quando finalmente deglutimos um assunto, já somos atropelados pela urgência de uma vida que somos obrigados a viver, do abrir ao pregar dos olhos. A vida passa fulminante enquanto escrevemos sentindo e avaliando o peso de cada palavra. Incapazes de expressar mazelas e exorcizar demônios criados por nós mesmos, adoecemos em lenta morte, infeccionados pelos nossos próprios defeitos.

Escrever aqui foi o que me impediu de fechar os olhos a essa luz. Esbravejar por escrito – mesmo que para destinatários que desconheço – é confortante, justamente quando não me serviam mais as opiniões sensatas. Digo isso porque, afinal, lá no fundo, a gente sempre sabe quando tá fazendo merda. E é nesse ponto que eu discordo de quem diz que somos, essencialmente, bons e puros de espírito. Na verdade, compactuo com a hipótese de que, se não exercermos controle firme sobre nossos pensamentos e atitudes, transformamo-nos em nada mais do que o lodo do lodo. O erro está na nossa alma, e cada descuido é um curativo para as mais-de-mil chagas que se espalham por sua superfície.

Descobrir-se imperfeito, defeituoso e incapaz (e escrever sobre isso) é o que me impede de desmoronar. Essa obra inacabada que todos somos precisa de andaimes, estacas e apoios para se manter de pé. Família, amigos, músicas, drogas… usamos o que temos ao nosso alcance, embora saibamos que jamais estaremos prontos. Jamais.

Viver é perigoso. O mundo é veloz, cruel, e cheio de arestas. Só está a salvo quem está morto.


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Morfina Lucas Silveira

Quando lutamos contra nós mesmos, somos os únicos a colecionar feridas. Até que ponto vale a pena ater-se ao caminho da menor-dor, do baixo risco e do conforto calculado? Você grita para si mesmo com tanta força essa mentira, que acaba por não ouvir o peito clamando por um segundo de atenção. Mas eu consigo ouví-lo, quando ele encosta no meu, e sigo aguardando o dia em que a tua garganta, de tão rouca, deixe chegar aos teus ouvidos o que para mim fica claro toda vez que teus olhos fecham antes dos meus: é recíproco.

Eu poderia dizer que fui acometido por uma abstinência de sensações às quais já estava acostumado. É o que você sempre diz, mas eu ainda não me acostumei a você. Por isso que eu sempre volto, mesmo quando a minha autoestima implora para que eu espere por um sinal teu. Teus sinais foram dados; nós é que falamos línguas diferentes, quando o assunto é sentir e expressar.

Eu poderia dizer o que já repeti em refrões antigos: que sou “alguém pra ocupar o lugar / de quem não vai voltar”. São palavras que me saltam da língua e páram nos dentes, sempre que sinto medo de que você confirme a minha hipótese. Então eu sigo o teu conselho de me ater apenas às tuas ações. E assim eu sigo, tirando da tua boca frases impensáveis, do teu peito, o calor que eu preciso e, da tua vida, tudo que vai de encontro aos teus planos de não me deixar entrar. Aluguei um espaço no teu pensamento e me sinto confortável aqui, embora nada me garanta que eu não possa ser despejado. Se for pra ser, que assim seja: o frio da rua é mais confortável do que um lar onde já não se quer mais morar. E faz tempo que eu me mudei, jogando fora as chaves da antiga morada.

A vida ensina, a gente aprende. No entanto, isso não quer dizer que não devamos, às vezes, desobedecer as leis que nós mesmos criamos. Cansei de lutar contra mim mesmo, pois já me cobrem o corpo feridas em diferentes fases de cicatrização. Aqui estou, pronto para me aplicar com mais algumas doses cavalares de você, se assim me permitir. E eu já não mais vivo sem essa morfina que eu batizei com o teu nome, há alguns meses atrás.


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Como está seu romance Lucas Silveira

Diálogo 1:

“Como é que tu tá?”

Vai ver alguém hoje à noite?

Saiba que não estou aqui pra levantar o tom, nem o volume da voz. Já o fiz por tantas vezes que hoje digo para mim mesmo: “não mais”. Não temos mais nada em jogo aqui, não é mesmo? Já me ocupam cada centímetro do peito os mesmos sentimentos que eu vivia na ocasião em que te conheci. Sinto-os como se fossem inteiramente novos. A circunstância é outra, a pessoa é outra, e até o próprio sentimento assume diferentes formas. Mas ele me estufa o tórax com tal força que eu me sinto impelido a cuspir tudo fora, sem foco ou direção.

Eu tenho minhas convicções. Tinha. Quanto mais a vida avança, mais eu vou me acostumando a conjugar tudo no pretérito. É assim que te conjugo hoje. Olhar pra trás e ver-se contrariando todas as convicções que pareciam gravadas em pedra pode ser dolorido. E é, como em todas as vezes que assumimos nossos próprios erros. Eu tô passando por cima de muitas convicções, aqui. Eu tô quebrando uma porção de promessas infantis, também.

Mas quem sou eu, pra me contrariar?

Eu queria saltar de um avião e abrir o pára-quedas somente no último milésimo de segundo que me separaria da eternidade.

Mas aí alguém me chamou para planar.

Diálogo 2:

“Como é que tu tá?”

Eu quero te ver hoje à noite.

E eu não estou aqui para ser mais um capítulo insignificante no teu livro de contos. Já passeei por tantos livros mal-escritos que hoje me encarei no espelho antes de te ligar, dizendo: “não mais”. O nada que existe entre nós é tão perturbador que tenho medo de imaginar o que existe em jogo aqui. A folha está em branco. Essa relação disforme pode ter o significado que tiver, mas vai ser sempre superlativa em vários aspectos. Cabe a mim administrar na cabeça a responsabilidade de ter todas as fichas apostadas, sempre. Cabe a ti pegar na minha mão e jogar os dados.

O sentimento que eu pulverizo em forma de palavra escrita abre espaço no meu peito para o que é novo. Me pego falando sozinho, perguntando pra mim mesmo até quando eu consigo sustentar por debaixo da minha cara sisuda o sorriso que me rasga a face de fora a fora. Talvez se eu te mostrasse tudo, tu passaria por cima de mais umas convicções. O caminho é agridoce, e começa debaixo desses lençóis dos quais a gente hesita tanto em sair.

Como está o meu romance? Planando como o teu, e procurando ventos novos para jamais colocar os pés no chão novamente.


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A pequenitude das coisas grandes Lucas Silveira

Lembro de uma fixação latente por mãos. Talvez ela nem saiba que tem mãos ansiosas. Ela não quer saber de uma porção de coisas. Talvez saiba demais. Talvez eu a tenha deixado saber demais. De boca fechada, meus olhos gritam mais alto que o barulho da tevê que ilumina o quarto. Lembro de fechá-los por vontade própria, a fim de que ela não me visse despido de tudo que eu crio pra que ela não preste muita atenção em mim.

Distrações. Uma grande orquestra tocando uma pequena canção. Detalhes singelos que ganham proporções quase épicas. As mãos ansiosas. Lembro de jogar pedras naquela janela para, quem sabe, enxergar através das brechas algo que me mostre que eu não sou o único perdendo a razão aqui, nesse sofá. Sinto que somos como dois carrosséis que giram em sentidos opostos. Eu não quero saber o que acontece quando estamos de costas um para o outro.

Há pouco estávamos aqui, enxergando um ao outro de uma distância que pode ser medida com os dedos de uma mão. Em meu carpete, marcas de sapatos que viajaram o universo procurando sentir aquilo. E eu senti tudo aqui, quieto. Fechava os olhos sempre que sentia os meus pensamentos tentando saltar através das órbitas. Tive medo de vê-los derramados pelos lençóis, de vê-la olhando atônita para aquilo tudo, como se não fosse capaz de ouvir os meus olhos gritando.

Já tive sentimentos imensuráveis. Imensurável também era tudo que vinha agregado ao fato de sentir algo que não cabe no peito. A orquestra foi perdendo, aos poucos, seus membros mais importantes, até que o desfalque era tamanho que me feria os ouvidos. Uma desafinada sinfonia, sem melodia nem cadência, conduzida por um maestro que não está mais lá. Hoje minha filarmônica ensaia um movimento diferente, que eu tento chamar, mas não consigo, de distração. Uma grande orquestra tocando uma pequena canção.

E a música dela é nova, é rara, é curta, e quase nunca toca no meu gramofone. Mas é no mesmo tom da minha. Ela parece não saber que cada nota ficou na minha cabeça, como uma partitura escrita pelas paredes da minha casa. Ela parece não querer saber. Mas cá estou eu, sempre falando um pouco demais.

Porra, guria. Porra. Quem te escreveu assim?


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O mundo é de quem tem coragem Lucas Silveira

O que escrevo a seguir é um discurso para mim mesmo.

O que é prever o futuro, senão fabricá-lo com as próprias mãos?

Prever o futuro é moldá-lo com atitudes, inspiradas nos mais ousados sonhos. Não consigo lembrar de cabeça o nome de alguém que realizou seus sonhos sem ter, para isso, passado por todo tipo de obstáculos. E eu me encontro frente a uma antiga muralha que há anos se coloca em meu caminho. Paredes escorregadias de limo que não se deixam ser escaladas. Obstáculo. O que há do outro lado? Não sei. Mas não é do meu feitio ficar aqui, parado.

Digo isso porque há muito tempo conclui que não existe nada mais valioso do que um objetivo em mente. Um sonho, por que não? O sonho nada mais é do que uma realidade que pode assumir qualquer tamanho e forma que a gente conseguir imaginar. Se meus pensamentos conceberem uma jornada sem fim, sem objetivo aparente, ou até mesmo sem sentido, seria uma grande auto-traição não realizá-la. Não fomos dotados da capacidade de sonhar por acaso. Use-a.

Sejamos maiores. Tenhamos CORAGEM. Escrevo em maiúsculas por acreditar que essa é a única palavra que precisa realmente ficar nos olhos de quem está lendo isso. É uma luta em que ninguém vai entrar no ringue pela gente. NINGUÉM. Depender apenas dos próprios punhos é assustador, mas a cada obstáculo transposto, a gente aprende que – sempre – pode mais. O sangue que deixarmos espirrar será lembrança eterna do quão longe chegamos.

Eu sei qual é o meu futuro. Cabe a mim construí-lo.

A dor no peito daqueles que tiveram medo é infinitamente maior que a dor de quem tentou e caiu.

Enfim…


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